28 outubro 2008

José Saramago - Ensaio sobre a cegueira


"Primeiro estranha-se, depois entranha-se". Não vou querer parecer intelectual porque não sou. Penso que às vezes os intelectuais, são tão intelectuais que se afastam verdadeiramente da análise racional das coisas, e isso a mim deixa-me aflita. Sou mais racional, gosto de analisar factos e não suposições. Bem... aonde íamos? Ah! É verdade, Saramago... Pode-se não gostar dele, por várias razões..., mas uma coisa é certa, para mim que acima de tudo sou portuguesa, é um orgulho ter um filme de um realizador brasileiro, baseado num Prémio Nobel de Literatura português a abrir o Festival de Cinema de Cannes. É, ou não um orgulho? É aquela sensação de peito elevado e para a frente. Saramago é peremptório nas suas afirmações, mas ele só defende o seu ponto de vista. Mas às vezes, também diz coisas que não têm muito nexo, mas enfim... Acho-o uma pessoa sofrida e com bastante mágoa de viver fora do seu país, senão vejam estes seus versos. Parabéns, a si José Saramago, fantástico!

POEMA À BOCA FECHADA

Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.

Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.

Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.

Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.

José Saramago

Sem comentários: